quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Sai pela porta...

Sai pela porta, mas deixa sempre uma janela aberta. Apressa o passo. Pula umas pedras pelo caminho e vai. Um sorriso aberto feito sol de verão que inaugura o dia. Lembra da menina que era ainda em outras primaveras. Quem inaugurava agora, e...ra ela. Estampa o rosto de mudança. Percebe o tamanho das pernas. Prontas para pular. Agora abismos. Essa era sua especialidade. Pulos. Sempre em frente. Depois de muito tempo, ela agora sabia bem onde queria chegar.
Vanessa Leonardi
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Ao amanhecer....


"Abra o coração. Estique o sorriso. Caminhe de mãos dadas. Enrole os braços em alguém. Coloque o coração pra perdoar. Diga palavras felizes ao acordar. Chore toda mágoa. Chore o mar inteiro. Balance uma criança. Quando se pensa no futuro portas devem ser abertas por dentro, ficar brilhante. Hoje não é dia de arrumar as memórias. Hoje é o dia de começar de novo. Sonhar de novo."
 

Vanessa Leonardi




 

domingo, 15 de dezembro de 2013

Ha... vem

Vem me transformar em mais do que hoje sou: mais forte e mais serena, mais confiante e mais dura - mas também doce quando precisares. Vem fazer de mim algo maior que eu.

[ Lya Luft ]

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

tocar

"Quando você toca o corpo de alguém, faça-o como uma oração, como se o próprio Deus estivesse lá e a quem você está servindo"
Osho


 

"O Cotidiano fala em voz baixa com o eterno." Rainer Rilke

"O Cotidiano fala em voz baixa com o eterno." Rainer Rilke
 


Somos mortais, do milagre da vida, o momento sucedido é eterno !
Quando chegar tua mulher ou teu marido, seus filhos, não continue indiferente vendo a TV ou computador, precisamos aprender urgente a fazer festas, como fazem os cães, sempre amorosos e alegres, precisamos levantar e reverenciar com a alegria o encontro. Gp




 

Solidão essencial

Uma única coisa é necessária: a solidão. A grande solidão interior. Ir dentro de si e não encontrar ninguém durante horas, é a isso que é preciso chegar. Estar só, como a criança está só.  Rainer Rilke
 

Despir um corpo a primeira vez


DESPIR UM CORPO A PRIMEIRA VEZ
Despir um corpo a primeira vez é um acontecimento entre dois deuses. Não se pode profanar o instante. E os amantes devem manter o ritmo dos altares. Porque, embora nesses rituais haja sempre panos e trajes para agradar ao olimpo, é para a nudez total que o céu nos quer arrebatar.
As mãos têm um compasso certo. Um andante ou largo de Bach nos gestos, compondo a alegria de homens e mulheres. As mãos, sobretudo, não podem se apressar. Com os olhos têm de aprender e, com a ponta dos dedos contemplar os acordes que irão surgindo quando, peça por peça, o corpo for se desvestindo ao pé do altar.
Antes de se tocar com as mãos e os lábios, na verdade, já se tocou o corpo alheio com um distraído olhar sempre envolvente. E ninguém toca um corpo impunemente. Despir um corpo a primeira vez não pode ser coisa de poeta desatento colhendo futilmente a flor oferta num abundante canteiro de poesia. Nem pode ser coisa de um puro microscopista que olhe as coisas sabiamente. Se tem de ser de sábio o olhar, que seja do botânico, porque esse sabe aflorar em cada espécie o que cada espécie tem de mais secreto ou distante, o que cada espécie saber dar.
Despir um corpo a primeira vez é conhecer pela primeira vez uma cidade. E os corpos das cidades têm portas para abrir, jardins de repousar, torres e altitudes que excitam a visitação. Algumas cidades sitiadas caem ao som de trombetas, outras se entregam porque não mais suportam a sede e a fome de amar. As cidades têm limites e resistência. E, como o corpo, querem alguém que as habite com intimidade solar.
Gêngis Kan, Átila ou qualquer conquistador vulgar têm com as cidades e corpos uma estranha relação. O objetivo é a devassa e a dominação. Conquistada a cidade, a ordem é marchar.
Por isso, cuidado para não se acercar do outro apenas com esse olhar guerreiro ou com esse olhar tolo de turista. O turista, embora procure os sabores típicos, é um voyeurista que só quer fotografar. Mas há turistas e turistas, e o pior turista é aquele que olha sem olhar. É um perdido marinheiro que está preso em algum porto, que não se permite num outro corpo inteiramente desembarcar.
Quando os corpos se tocam por acaso, como se estivessem indo em direções diferentes, o que ocorre é desperdício. Não se pode tocar um corpo impunemente. E para se tocar um corpo completa e profundamente num dado instante, os corpos têm que convergir. E convergir com uma lua diferente. A descoberta do outro é isso, é convergência.
Despir um corpo a primeira vez é como despir um presente. Por isso não se pode desembrulha-lo assim às pressas, embora a gula nos precipite afoitos sobre a pele oferta. Não se pode com mãos infantis descompassadas ir rasgando invólucros, arrebentando cordões com a gula que as crianças só têm nas confeitarias antes da indigestão.
Despir um corpo a primeira vez, para usar uma imagem conhecida, é mais do que ir a primeira vez a Europa. Pode ser ao contrário, desembarcar pela primeira vez na América sobre a nudez do desconhecido. É descobrir na pele alheia mais que a pele dele, a nossa pele índia. E volto àquela imagem: despir um corpo a primeira vez é tão marcante quanto a vez primeira que um mineiro viu o mar.
Um corpo é surpresa sempre. E o que se vê nas praias, nesse exercício coletivo de nudez total negaceada, em nada tira a eufórica contenção do ato, quando os dedos vão descendo botões e beijos e rompendo presilhas das carícias. Despir um corpo a primeira vez não é coisa para amador. Só se o amador for amador da arte de amar. Porque o corpo do outro não pode ter a sensação de perda, mas a certeza de que algo nele somou, que ele é um objeto luminoso que a outros deve iluminar.
Um corpo a primeira vez, no entanto, é frágil e pode trincar em alguma parte. E os menos resistentes se partem quando aquele que os toca, os toca apenas com a cobiça e nunca com a generosa mansidão de quem veio pela primeira vez, e sempre para amar.

Affonso Romano de Sant’ana